(Marlons Fintelman)
Resolvi analisar a reportagem sobre o crack, que foi inserida na série “Desafios do Brasil”, transmitida pela Rede Record no “Jornal da Record” do dia 25 de setembro (sábado). Por mais incrível que possa parecer, tudo começa bem. Até mesmo a chamada dos apresentadores é feita com qualidade. A introdução é boa, apesar de clichê: um dependente do crack andando por uma plantação, enquanto o repórter conta como ele se viciou trabalhando em uma lavoura de laranja.
As informações foram bem escolhidas, os cenários a princípio não são aqueles apelativos, que querem fazer o telespectador chorar. Aos poucos, conforme vai se seguindo a matéria, isso muda, claro.
Aos exemplos de viciados, pais de viciados e filhos de viciados, acrescentam-se opiniões de especialistas. A construção não é ruim. Os entrevistados são concisos e claros em suas explicações. Excelentes escolhas.
Não é dado um espaço muito grande aos dramas, às histórias que retratam os males que a droga causou a algumas famílias. Há uma quantidade relativamente grande de exemplos e quase nenhum aprofundamento, o que torna a maioria deles altamente superficial, trazendo a tona a velha (ou nem tanto) discussão sobre a preferência televisiva para o apelo emocional e não mais para a relevância daquilo que é transmitido.
A meu ver, é isso que faz a matéria descambar um pouco. Acaba falando tudo, sem dizer nada. Uma superficialidade tão grande que chega a quase convencer os menos atentos.
Para fechar com chave de ouro (como é de praxe), são retratados os casos de crianças que foram recolhidas em abrigos após nascerem em meio ao consumo da droga, com mães dependentes. Mas, como se sabe, no Brasil, tudo sempre dá certo final. Se ainda não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim. As criancinhas são colocadas para a adoção e passam a fazer parte de famílias “normais”, sem o vício por perto. Lindo, não? Ok, mas e as mães? Quem vai adotá-las e tirá-las do vício?
Matéria analisada
Telejornal: Jornal da Record
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