quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Perguntas sem respostas

(Mariana Teresa)

O telejornal analisado faz parte da rede nacional da TV Record. É exibido de Segunda a sexta-feira às 19h 40 e aos sábados ás 22h. A apresentação é feita pelos âncoras:  Celso Freitas e Ana Paula Padrão. Além das notícias do dia, toda semana, o Jornal da Record exibe uma série de reportagens especiais sobre diversos assuntos, que são transmitidas em 150 países, através da Record Internacional.A apresentação ocorre no estúdio em um cenário fixo. Muito parecido com o padrão da Globo.

A matéria analisada foi transmitida no dia 28 de setembro às 21h17.Ana Paula Padrão faz a chamada,  dizendo que metade dos brasileiros estão acima do peso, “um pouco gordinho” em suas palavras (sem fontes ou dados que de fato comprovem tal análise) , segundo ela as histórias de quem sofre com a obesidade são conhecidas de todo mundo, esse argumento de que isso já é algo comum, serve para justificar a superficialidade com a matéria aborda um assunto sério.

Ainda na chamada, Ana Paula questiona: “mas qual o fim de tantos dramas, que a gente já mostrou aqui no jornal da Record?” Essa pergunta não obteve resposta ao longo da matéria e o fato de já ter sido tratado a respeito desse assunto no jornal, faz com que o assunto não seja explorado e respondido os principais questionamentos a respeito do mesmo. Celso Freitas chama a repórter Abigail Costa, que reencontrou dois casos de pessoas obesas, que há três anos três anos mostraram o seu dia a dia no jornal da Record e revelam o que mudou em suas vidas.

A matéria faz uma ilustração mostrando o caso de duas pessoas Vanderlei, que é obeso e respira através de um aparelho, a matéria explora bastante o lado sentimental, dramatizando o caso.A repórter fala que desde o ano de 2007 Vanderlei espera pela cirurgia bariátrica em um hospital público, porém ela não informa os motivos pelo qual ele não conseguiu fazê-la, o que seria um ótimo assunto a ser questionado pelas autoridades. E a partir daí ela já muda de assunto, falando que assim como Vanderlei,quase 20% dos brasileiros (dados também sem nenhuma comprovação ou fonte) também descobriram as complicações da obesidade (quais? Mais uma vez a pergunta principal não é respondida)

Para dar “credibilidade” a matéria uma autoridade, um endocrinologista indaga, com um “ar” muito sarcástico: Qual a melhor maneira de tratar obesidade? Dieta e atividade física ele responde.Mas na mesma hora que afirma, ele já enfraquece seu argumento dizendo, que se fosse tão fácil como falar, esse número seria menor (trata a obesidade como algo que então, é praticamente impossível de ser tratada)

A matéria não tem nenhuma contextualização e possui falha na apuração que se restringe a apenas dois casos isolados e não na população obesa como um todo.O que seria uma excelente matéria de utilidade público acabou sendo uma matéria de casos pessoais sendo tratadas de maneira superficial e acabou por expor os personagens.

A repórter aparece na matéria fazendo um gancho para o lado estético e não se aprofunda no fato de atingir o psicológico da pessoa obesa.

Para melhor ilustrar a matéria, mostrou-se na conclusão, o caso de Andreia, que à três anos atrás era uma pessoa obesa e hoje após a cirurgia bariátrica é uma “outra pessoa” mais magra e mais feliz, ou seja o típico e clichê ‘happyend’. A repórter não fala como Andreia conseguiu fazer a cirurgia, caso contrário de Vanderlei e nem como que foi esse processo de adaptação e mudança, abordando simplesmente a parte estética do fato, ou seja, não apresentou nada que a população não saiba, não mostrou o porquê existem tantos obesos no Brasil, (segundo a matéria a metade da população) , como poderia ser melhor viabilizada a cirurgia, enfim os porquês da matéria, não foram respondidos, tornando banal e particular algo que teria que ter sido abordado de forma plural e aprofundada.

  
Matéria analisada

Telejornal: Jornal da Record
Data: 28 de setembro de 2010
Caso não consiga visualizar, clique aqui
 

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Happy End: A cereja do bolo

(Marlons Fintelman)

Resolvi analisar a reportagem sobre o crack, que foi inserida na série “Desafios do Brasil”, transmitida pela Rede Record no “Jornal da Record” do dia 25 de setembro (sábado). Por mais incrível que possa parecer, tudo começa bem.  Até mesmo a chamada dos apresentadores é feita com qualidade. A introdução é boa, apesar de clichê: um dependente do crack andando por uma plantação, enquanto o repórter conta como ele se viciou trabalhando em uma lavoura de laranja.

As informações foram bem escolhidas, os cenários a princípio não são aqueles apelativos, que querem fazer o telespectador chorar. Aos poucos, conforme vai se seguindo a matéria, isso muda, claro.

Aos exemplos de viciados, pais de viciados e filhos de viciados, acrescentam-se opiniões de especialistas. A construção não é ruim. Os entrevistados são concisos e claros em suas explicações. Excelentes escolhas.

Não é dado um espaço muito grande aos dramas, às histórias que retratam os males que a droga causou a algumas famílias. Há uma quantidade relativamente grande de exemplos e quase nenhum aprofundamento, o que torna a maioria deles altamente superficial, trazendo a tona a velha (ou nem tanto) discussão sobre a preferência televisiva para o apelo emocional e não mais para a relevância daquilo que é transmitido.

A meu ver, é isso que faz a matéria descambar um pouco. Acaba falando tudo, sem dizer nada. Uma superficialidade tão grande que chega a quase convencer os menos atentos.

         Para fechar com chave de ouro (como é de praxe), são retratados os casos de crianças que foram recolhidas em abrigos após nascerem em meio ao consumo da droga, com mães dependentes. Mas, como se sabe, no Brasil, tudo sempre dá certo final. Se ainda não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim. As criancinhas são colocadas para a adoção e passam a fazer parte de famílias “normais”, sem o vício por perto. Lindo, não? Ok, mas e as mães? Quem vai adotá-las e tirá-las do vício?


Matéria analisada

Telejornal: Jornal da Record
Data: 25 de setembro de 2010
Caso não consiga visualizar, clique aqui

Analogias futurísticas e a perda da autonomia humana

(Bruna Oliva)

É comum o Fantástico, exibido aos domingos a noite pela Rede Globo, incluir pautas futurísticas em sua programação. Geralmente exploram novas pesquisas de estudiosos internacionais, aparentemente para passar à população a ideia de maior credibilidade. Mas, a matéria veiculada no dia 19 de setembro, que fala sobre os eletrodomésticos que vão “bombar” – expressão usada pelo âncora – em 2050, foi realizada com pesquisadores brasileiros. Como toda matéria futurística do “Show da Vida”, tenha a essência americana ou brasileira, não passa de uma analogia. De fato, não há uma comprovação de que isso um dia acontecerá, ainda mais no ano de 2050, ao certo. Por enquanto, são apenas estudos e promessas.

Considerando que toda tecnologia ao surgir repentinamente atinge, a princípio, às classes mais altas. Suponhamos que no ano idealizado estes eletrodomésticos comecem a aparecer, serão acessíveis à população? Em momento nenhum a matéria fala de possíveis valores destas novas invenções. Portanto, qual a utilidade da matéria à população em geral? Ainda mais que o programa é exibido em horário nobre, aos domingos e, consequentemente, dedicado a todas as classes.

O espelho do futuro é praticamente uma releitura do guarda-roupa mostrado no filme “As Patricinhas de Beverly Hills”, lançado em 1995. A protagonista Cher Horowitz, interpretada por Alicia Silverstone, escolhe uma roupa para ir à escola e um computador, acoplado ao móvel, informa se as peças estão combinando ou não. A princípio, a “cobaia” do estudo – e personagem da matéria – fica entusiasmada com a ideia de um espelho que a ajudasse a escolher o melhor modelito. Porém, nem ela gostou da roupa escolhida pelo objeto “sabichão”. O repórter ainda tenta sair pela tangente com a resposta da entrevistada, falando que logo a nova tecnologia vai compreender o que a pessoa quer. Além disso, não traz nenhum argumento que comprove uma possível compreensão da máquina e já muda para outro assunto.

Quando a família escolhida vai conhecer a “casa do futuro” a produção planeja uma situação em que dois irmãos estão no mesmo cômodo, mas em atividades diferentes.  O irmão jogando vídeo-game e a irmã navegando na internet pelo notebook. Posteriormente, os dois se juntam ao redor de uma mesa computadorizada e depois em um jogo em frente a TV. E o repórter deixa uma pergunta no ar: “Será que no futuro ficaremos mais próximos”? Próximos sim, já que estão no mesmo espaço e compartilhando do mesmo objeto. Mas a interação humana, de fato, não existirá, pois toda a atenção continuará sendo dada à tecnologia.

Aparentemente, segundo a matéria, a cozinha será um dos cômodos com maiores interferências dos eletrodomésticos futurísticos. A geladeira vai programar o que falta e logo mandará um e-mail para o supermercado pedindo mais produtos. A vontade humana, onde fica nessa história? E se a pessoa, seja por qualquer motivo, não quiser mais consumir o produto faltante?

Outra utilidade da cozinha – não especifica qual eletrodoméstico – é reconhecer se a pessoa está utilizando farinha em vez de açúcar. Não seria mais fácil a pessoa ficar atenta para não trocar os produtos? Ou então ter o “cansativo trabalho” de olhar a embalagem? Com toda essa mordomia, a autonomia humana poderá ser perdida. Afinal, se a máquina faz tudo, para quê se preocupar?

         Ainda na cozinha, o repórter afirma que restos de comida serão transformados em fertilizantes. Isso, segundo várias pesquisas, é chamado de “reciclagem inteligente”, pois diminui satisfatoriamente a emissão de gás CO2 na atmosfera e gera benefícios ao meio-ambiente. Finalmente, um assunto que merece devida atenção, já que é de utilidade pública. Mas, não teve. No geral, a matéria se preocupou mais em mostrar a comodidade que teremos com os eletrodomésticos futurísticos, partindo para o interesse privado e não para o interesse público.

         Ao final da matéria aparenta que tudo acontecerá em um passe de mágica. Se tivermos fome, um capacete terá o poder de ler nossos pensamentos e mandar a ordem para uma cozinha que irá preparar o alimento. A ideia conclusiva é uma analogia de que a máquina será comandada a fazer tudo e, por fim, tomará o lugar da autonomia humana.


Matéria analisada

Telejornal: Fantástico
Data: 19 de setembro de 2010
Caso não consiga visualizar, clique aqui